Discurso de recepção à acadêmica Marisa Maia de Mello

 

Senhora Presidente, senhores acadêmicos e demais presentes, boa noite!

Sra. Marisa Maia,

Distinguido que fui para recebê-la no instante de sua sagração acadêmica – o que para mim é honroso e, para a senhora, inesquecível – vislumbrei um discurso que, pelo conteúdo, essência, e forma, ainda que não fosse uma ode, estivesse à altura do brilho e da gala desta noite, em que toma ilustre consórcio desta confraria.

Assim, recordei também de meu ingresso na Casa de Salusse. Quem de nós, acadêmicos, não o faz numa ocasião dessas? Na época, o Presidente Robério Canto, meu padrinho Alberto Wermelinger, presentes além da família e amigos, confrades que já não caminham ao nosso lado, como o nosso saudoso Hartmut Riedmayer. Enfim, são lembranças queridas, de um momento querido, em que hoje, todos nós somos personagens, história que um dia será contada (com a devida permissão do trocadilho) pela própria protagonista: Marisa Maia de Mello.

Marisa Maia é professora, mediadora de leitura, escritora e contadora de histórias. Natural de Nova Friburgo, após sua formação escolar, estabeleceu-se em Bom Jardim, terra de nosso ilustre patrono, Júlio Salusse. É autora do livro “Um pé de sonho”, coautora do livro “Contos & Encontros”, e tem diversas participações em antologias e projetos literários, sendo conveniente e de grande relevância mencionar: a “Bibliogaragem”, em que a novel acadêmica transformou sua própria garagem em uma biblioteca para atender as crianças do bairro, e “Histórias Viajantes”, um projeto de incentivo à leitura, no qual leva livros e contação de histórias para as escolas longínquas, em uma Kombi.

A título de curiosidade, ainda no Colégio Mercês, participou de seu primeiro festival de poesia, no qual classificou-se em segundo lugar. Um dos jurados do concurso era ninguém menos que o então acadêmico João Carlos Cortes Teixeira, que a procurou para uma conversa a fim de incentivá-la e enviou posteriormente o poema laureado para a publicação em um jornal. Isso, certamente, serviu como impulso e fomento para que perseverasse no caminho das letras. E deu certo!

Marisa Maia formou-se em Pedagogia com pós-graduação em Formação de Leitores, extensão em Gestão Cultural e Arte-educação, dedicando-se mais de trinta anos ao magistério. É Conselheira de Cultura em Bom Jardim desde 2009. Em seu baú de experiências, guardou outras formações: teatro, dança, canto, artes plásticas, prosa e poesia. Tudo isso para agregar valores à sua grande paixão: contar histórias.

Segundo William Faulkner, escritor norte-americano, considerado um dos maiores romancistas do século XX, “o que a literatura faz é o mesmo que acender um fósforo no campo no meio da noite. Um fósforo não ilumina quase nada, mas nos permite ver quanta escuridão existe ao redor”.

É disso que se trata. Acender fósforos nos campos no meio da noite. Marisa Maia chega a Academia Friburguense de Letras pelo cuidadoso e laborioso trabalho de “acender fósforos” que vem realizando com carinho e paciência através de uma longa jornada inteiramente dedicada à Educação, Cultura e Literatura. Como exemplo, cito a Festa Literária da Serra realizada em Bom Jardim nos anos de 2013, 2014, 2015, 2016 e 2017, da qual foi curadora e apresentadora, atividades que pouco a pouco a impulsionaram ao seu livro “Um pé de sonho”.

Um pé de sonho” é um livro infantil, com vocabulário simples e de fácil leitura, certamente aprovados pelo gosto das crianças, abordando temas como amor, coragem e sonhos. Não obstante o tema tratado, nem as intenções da autora, reflete ainda mais nas entrelinhas, de modo indiscutível, os principais valores culturais dedicados à infância.

Aqui volto a me recordar de quando atravessei as portas desta Casa. Podemos dizer, nobres colegas e confrades, que se trata de um sonho? Eu acredito que sim. Há setenta e cinco anos, um grupo de intelectuais, tendo a frente, Dr. Rudá Brandão de Azambuja e o Professor Messias de Moraes Teixeira, duas figuras atuantes do setor cultural da época em Nova Friburgo, deu início a esse sonho, fundando a Academia Friburguense de Letras, ali na praça. Nossos setenta e cinco anos correspondem a mais de um terço da história da cidade, incentivando a atividade literária, educativa e cultural de Nova Friburgo e região. Nada mais natural e procedente, então, do que a aspiração de um autor à auréola acadêmica; é justo e louvável.

Sra. Marisa Maia,

Nesta noite, a Academia Friburguense de Letras se engrandece, pois vem nela conviver um espírito de extraordinária atividade intelectual e autêntica formação humanística. Que você continue a “acender fósforos, a plantar sonhos, por muitos e muitos anos. Esta Casa está feliz, porque de agora em diante, também é sua.

Seja bem vinda! Parabéns e felicidades! Evoé!

George dos Santos Pacheco

Cadeira n ° 38, Patronímica de Sylvio Romero

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