Não é a
primeira vez que conto isso, mas a proximidade do fim do ano me fez
lembrar. Meu filho, quando tão pequeno que passado, presente e futuro se
misturavam em sua cabeça, assistia a um desenho na TV. Estávamos saindo para ir
à casa de meu irmão, e ele tanto queria estar lá, brincando com o primo, quanto
ficar em casa, vendo o resto do desenho. Ainda não tinha aprendido essa
dura realidade da vida: quem escolhe renuncia.
Foi então que
ele teve uma ideia tão verdadeiramente brilhante que brilhou em seus olhos.
Sugeriu que a TV ficasse desligada, até que ele estivesse com o primo, e juntos
continuassem a acompanhar a história, a partir do ponto em que ele a havia
deixado, ao sair de casa.
Coisa de
criança! diremos nós, com toda a razão. Mas também nós, tantas vezes queremos
que o tempo pare, ou que se apresse, ao sabor de nossas necessidades e
conveniências. Vemos os anos despencando um a um pelas folhas dos calendários e
dizemos que o tempo passa, quando nós é que passamos, o tempo é túnica
inconsútil, não tem remendos nem costuras.
O tempo nos
ignora e vai em frente, indiferente às nossas alegrias ou sofrimentos, que
fazem com que ele nos pareça apressado demais ou desesperadoramente lento. Ai,
como o tempo voa no leito do amor! Ai, como o tempo se imobiliza no leito do
hospital!
A
nossa tão imensa, mas tão limitada inteligência não consegue abarcar a noção de
infinito. Quando falamos que algo é infinito, estamos pensando em algo finito,
pois mais do que isso não conseguimos compreender. O tempo, sim, é infinito,
mas nossa passagem por ele é tão curta, tão já-é, já-era, já-foi, que
precisamos dividi-lo para lidar com ele, para aprisioná-lo nos limites da nossa
compreensão.
E foi por
isso que inventaram a passagem de ano, quando nos parece que uma mudança
acontece de verdade. Mas nada muda, só nós podemos mudar. Então esforcemo-nos
verdadeiramente para que a virada que vai acontecer entre 31 de dezembro e 1º.
de janeiro realmente nos impulsione, nos motive a fazer coisas novas e boas, na
busca de um ano melhor, uma vida melhor, um mundo melhor para nós todos que
aqui estamos neste momento, e para todos os que nos sucederão no infindável
desenrolar desse novelo chamado tempo.
Cadeira n° 4,
Patronímica de Alphonsus de Guimarães
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