Boa noite a todos!
Sr. Presidente, demais acadêmicos aqui presentes, Sr. Hartmut, meu padrinho, meus queridos familiares e amigos que me deram a honra da vossa presença:
Este é um momento de imensa alegria para mim.
Bem, é uma grande responsabilidade ocupar a cadeira nº 1 da Academia Friburguense de Letras, patronímica de Afrânio Peixoto.
Sua vida acadêmica oscilava entre a vocação científica, como renomado médico, e os pendores literários.
Além de médico, foi político, professor, crítico, romancista e historiador literário.
Conseguiu conciliar tudo.
Em 1910 foi eleito para a Academia Brasileira de Letras.
E em sua biografia resumiu com singeleza, sobre seus múltiplos caminhos: “Estudou e escreveu, nada mais lhe aconteceu.”
Quanto ao meu antecessor, Antônio Francisco Furtado do Amaral, o “Tito Amaral”, era Doutor em Física, conhecedor apurado da língua portuguesa, uma das gratas figuras da cultura friburguense.
Foi presidente desta Academia.
Como palestrador brilhante, participou da XII Semana de Filosofia da Faculdade Eclesiástica de Filosofia João Paulo II, apresentando a Conferência Magna sobre “Fé e Ciência”.
Quanto a mim, sempre estive vinculada à arte musical, mas a minha grande paixão é a literatura, aptidão essa herdada da minha saudosa mãe. Desde a minha infância li e escrevi, em prosa ou em versos. No antigo curso primário eu já escrevia para o jornalzinho da escola, que chamava “O Mirim”. Tive artigos publicados no “Jornaleco” e outros jornais, bem como na revista “Repensar”, do Instituto de Filosofia e Teologia Paulo VI. Já participei dos Jogos Florais.
Confesso que, há poucos dias atrás, eu não imaginava que hoje estaria aqui, tomando posse como membro da Academia Friburguense de Letras.
Sempre devotei a esta casa grande honra e consideração, sentimentos esses que agora vão se aprofundando, mediante a harmonia simples e sincera que permeia a relação dos seus membros.
Estou muito feliz. Imagina, estar ao lado dos magníficos!
Não posso aqui discorrer sobre cada um deles, pois o tempo é incompatível.
Todavia, cada um deles, educadores, clérigos, cientistas, historiadores, jornalistas, poetas ... ao se consagrarem escritores, desejam tocar suave ou arrojadamente os corações humanos, como “alimentadores dos sonhos”.
Se publicam “histórias”, fruto de pesquisas reais, essas serão como um orvalho sobre a dor da saudade, ou a perspectiva de aprofundar-se no conhecimento de suas raízes.
E se forem “criações”, elas embalarão os sonhos e influenciarão a alma dos amantes da literatura.
A arte tem poder de persuasão.
Se ela se tornar suave, resta a esperança de que produza efeitos apaziguadores, perceptíveis ao longo dos tempos.
Isso é uma utopia?
Não posso afirmar que não.
Todavia, apesar de utópico, eu persisto na busca de um bem maior: a lapidação do ser interior, onde o amor e a paz possam prevalecer e volte a se manifestar a ternura.
Não é muita pretensão minha?
Deve ser, mas ...
Na lenda da floresta em chamas, um pássaro cansadinho ia e vinha com gotas de água para jogar sobre o fogo. Alguém disse: - Não vê que não vai adiantar? Ele respondeu: - Terei feito a minha parte.
Espelhada nessa premissa, meus romances ou contos, falam da atualidade, abordam temas modernos, mas, nas entrelinhas, resgatados do emaranhado das intrínsecas relações humanas, trazem à tona alguns valores, semi esquecidos pelo chamado mundo moderno.
“Preciso Salvar as Crianças”, meu primeiro romance, foi lançado aqui na sede da Academia Friburguense de Letras, em 2010, sob a presidência do nosso querido e saudoso professor Aécio.
Que “estória” é essa?
É uma narrativa sobre a exploração da natureza sem a devida sustentação, movida por ganância e sede de vanglórias. O resultado foi uma catástrofe natural e a formação de um inimigo invisível que ameaçava a vida das crianças, tendo produzido suas vítimas fatais.
Essa inspiração me veio através de uns sonhos e eu desejo que tenha sido apenas um empurrãozinho para o desabrochar da Anna escritora; que a lenda nunca se torne uma história.
Sobre esse livro recebi palavras valiosas do professor Hamilton Werneck, nosso confrade, que considerou boa principalmente a fluidez da narrativa e o perfeito manejo dos diálogos, ordenados de forma a não deixar dúvidas nos leitores.
Recebi muitos outros comentários, como o de uma amiga que me mandou uma mensagem às 7:30, dizendo: “-O seu livro é uma droga!”
Fiquei um tanto decepcionada, mas, fazer o quê? Questão de opinião ...
Dali uns vinte minutos ela mandou-me outra mensagem: “- Que droga! Já perdi a hora do banho, do café, e até do trabalho, e não consigo parar de ler!”
Foi gratificante!
Recentemente encontrei-me com a caríssima Wanda, nossa confreira, e ela disse-me: “- Não me esqueço do seu livro; eu não parei de ler até saber o resultado das bolhas que salvariam a vida das crianças.”
Em 2014 editei mais três romances e um livro de contos.
Todos maravilhosos !!!
Eu os releio e me emociono a cada vez.
Será possível abandonar uma criança numa praça? No meu romance “Era Tudo que eu Tinha ...”, a própria mãe deixa o pequeno Iane num parquinho, numa cidade distante, e desaparece. O menino passa pelas agruras da vida.
Tenho mais três romances prontos, a editar:
“A Renovação da Águia”,um desses três romances, fala da realidade nua e crua da corrupção movida a inveja e traição. Mas fala também do poder de enfrentar as intempéries.
Tomo a liberdade de ler um parágrafo desse romance. É a fala da mãe, dirigida ao filho que está sofrendo. Ela diz:
“- Bem, acho que a alguns humanos é oferecida a ‘renovação’. Só que nós não teríamos coragem de enfrentar se nos fosse dado o livre arbítrio, então somos impelidos ao processo. Se entendermos, temos a chance de vencer e alcançar o segundo estágio da vida plena, que poderá ser melhor que o primeiro. Alguns sucumbem, mas eu tenho fé que você resistirá. No caso da águia o tempo de renovação gira em torno de cinco meses. No nosso caso não sabemos o tempo, só temos certeza de que, há o ‘tempo de sofrer’ mas chegará o ‘tempo da alegria’; há o ‘tempo de derribar’ mas chegará o ‘tempo de edificar’.”
Meu outro romance, “Um Lugar Aprazível”, reúne os personagens de todos os meus livros anteriores; todavia é uma narrativa independente. Se alguém ler apenas esse livro, terá a compreensão da trama. Mas para quem leu toda a minha coleção a estória se tornará mais interessante.
Ao concluir esse livro, pensei e me ordenei:
“- Ponto final, Anna! Esse foi seu último livro!”
Mas ... alguns dias depois ... lá estava o “bichinho da inspiração” tocando o meu cérebro, mediante vários fatos reais, e aí eu escrevi:
“Ficção ou Futurismo?”
Esse é um romance de ficção científica. Sobre ele eu também espero que não saia das páginas escritas para o nosso dia a dia.
O segundo capítulo desse livro descreve o país onde a lenda ocorre e é preciso fazer um esforço sobrenatural para não comparar esse país a outro que a gente conhece bem de perto.
Ainda bem que ainda não se paga o imposto do sonho! Podemos então sonhar que algumas “pátrias amadas”, que estão “plantando bananeira”, ainda desvirem e voltem a ter a cabeça no lugar.
Bem, finalizando, quero citar duas frases do poema do saudoso Professor Aécio, que foi recitado pelo nosso confrade George na cerimônia de sua posse, sob a colocação de que, as palavras do poema deveriam ser “a bússola a nortear cada dia do nosso mais precioso bem: a vida”.
Essas são as duas frases que desejo reafirmar:
... Escolher ser feliz a cada dia;
... Encontrar sempre o lado positivo de tudo que nos rodeia.
Agradeço aos confrades e confreiras que me acolheram aqui nesta casa, cujo propósito é o de “incentivar a atividade literária, educativa e cultural de Nova Friburgo”, sob o prisma do imortal Azambuja: “Cultuar a arte é sublimar o espírito”.
Presidente Robério, Srs. Hartmut, Professor Jordão, Alberto, Ordirlei, George, Tereza, e demais acadêmicos, muito obrigada pelo carinho. Tenho muito que aprender com vocês, mas proponho-me a colaborar para a realização dos projetos da nossa casa.
Concluo citando um poema meu, que aborda o tema da vida de muitas mulheres, e reafirma que, é possível vencer todas as lutas cotidianas e ao final encontrar, guardado numa caixinha no cantinho do coração, pronto para ser usado, um tesouro que quanto mais se distribui mais se tem: o amor.
O título do poema é: “A Operária-Mãe!”
Levanta às quatro e meia
Lava o rosto e se penteia
Numa grande correria.
Enquanto faz o café
Numa atitude de fé
Pede a Deus por um bom dia.
Faz frio e, relutante
Hesita ainda um instante
Porém, sem outra saída,
Levando ao colo o filhinho,
Trêmulo, encolhidinho
Sai para enfrentar a vida.
Corre. Na rua deserta
Seu bebê então desperta
Parece que vai chorar;
Olha a mãe e a reconhece;
Seu sorriso a enternece
Como um solzinho a brilhar.
Sobe aquela escadaria.
Lá em cima dona Maria
Espera à porta de casa.
Deixa o filho e tristemente
Desce logo, segue em frente,
Seu ônibus não atrasa.
Lembra o filho e o peito dói,
A saudade lhe corrói.
Não tem jeito. Que fazer?
Pensa nas mães sem entranhas
Que os entregam a estranhas
Prá curtir o seu lazer.
Luta muito o dia inteiro
Precisa desse dinheiro
Prá sua manutenção,
E se sente ameaçada
Com a presença confirmada
De uma nova recessão.
O leite vai aumentar
Quanto o pão vai custar?
O aluguel tá disparado ...
Nesse estado angustiante
Sufoca a dor cruciante
De um grito desesperado.
À tardinha em seu lar
Tem a roupa, o jantar
E limpeza prá fazer.
Com derradeira energia
Enfrenta o final do dia
Nessa luta prá valer.
Mas ... tira ainda um tempinho
Com muito amor e carinho
E, cantando uma canção,
Embala o pequeno ser
Que adormece. Que prazer
Tê-lo junto ao coração !
Obrigada a todos.
Anna Braga Asth – 21/10/2016.
Anna Braga Asth, friburguense, professora de música graduada pela Universidade Cândido Mendes, possui importante trabalho sobre “O Jogo na Educação Musical” e um trabalho de pesquisa em História das Artes, sobre o entrelaçamento das artes Música-Teatro-Dança.
Apaixonada por literatura, já lançou cinco romances e um livro de contos, e tem mais três romances devidamente registrados aguardando edição. Tem artigos publicados em pequenos jornais e na revista “Repensar”, do Instituto de Filosofia e Teologia Paulo VI.
Cadeira nº 01 - Patronímica: Afrânio Peixoto.
Parabéns Anna Braga Haster!' Sua humildade a faz ir Longe;se DEUS quiser.
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