Apresento aqui neste breve artigo algumas partes da palestra que fiz na Academia Friburguense de Letras em 2014 com o tema: "Os Caminhos da Razão para o Conhecimento da Existência de Deus", com grande participação dos amigos confrades e da comunidade.
ARISTÓTELES, por força da razão, reconheceu a existência de Deus, tendo em vista o fato de haver finalidade (direcionalidade) e movimento (transformações) na natureza. Sobressaem assim, os seguintes aspectos teóricos sobre este tema em seus escritos:
1) A Existência de Deus - O argumento essencial recai sobre a prova metafísica. Todo ser em movimento tem uma causa que o move. E tudo o que move é movido por outro,pois em todos os entes finitos há sempre algo que lhes possibilita serem movidos (todos estes são mistos de potência e ato). Este movimento somente é possível através de uma atualização, isto é, a passagem da potência ao ato, realizada por um agente externo ao que é movido. Ora, na série de causas ( ou agentes que movem) não é possível ir ao infinito (princípio de regressão), pois ,então, seria impossível o movimento. Logo, deve existir necessariamente um primeiro agente (ou motor) que move toda a série de causas e não é movido por nenhum outro a não ser por si mesmo. Isto implica também que a Primeira Causa é Ato Puro , ou seja , não possui mistura de potência e ato, realizando em si todas as perfeições do ser;
2) A Natureza de Deus - Deus é ato puro(sem nenhuma potência, pois já é tudo que deve ser) ,motor imóvel, absolutamente simples ( não composto de partes), incorpóreo. O ato puro significa perfeição e a suma perfeição consiste em pensar-se a si próprio sem algo externo que lhe mova o pensamento. Deus é pensamento de pensamento, sumamente completo em si mesmo.
TOMÁS DE AQUINO, na Idade Média, no seculo XIII, retoma a filosofia aristotélica e a introduz no ocidente, adaptando-a à Teologia Cristã. Porém, traça uma teologia natural com base na própria razão filosófica, mostrando os passos racionais, conforme os princípios metafísicos, para a afirmação da existência de Deus. Há que se dizer, contudo , que a sua postura sobre o conhecimento é de frisar a via apofática (da negação) e analógica para se falar do Ser Divino. Primeiro negar do ser perfeito as qualidades limitadoras e as imperfeições. Sabe-se, assim, o que Ele não é. Ou a comparação através da proporção do ser que gera uma noção, uma razão de similaridade , a qual tem o seu grau infinito no ser absoluto. Os atributos divinos que tocam a essência do ser perfeito só podem ser alcançados racionalmente por estas duas vias de conhecimento.
Quanto à existência de Deus , o objeto desta reflexão, Tomás de Aquino, organiza cinco vias que, resgatando as bases da argumentação aristotélica, situam de forma mais sistemática a possibilidade do alcance da razão a esta realidade , como constatação necessária pelo princípio da causalidade:
1) VIA PELO MOVIMENTO - Recoloca o pensamento do motor imóvel necessário como causador de toda a sequência de movimentos, conforme as categorias aristotélicas de ato e potência;
2) VIA PELA EFICIÊNCIA - Aqui, apresenta Deus como causa primeira incausada que fundamenta toda a corrente de causas secundárias, na relação causa-efeito, no universo. Esta relação de efeito para causa não pode ser um processo "ad infinitum", pois seria negar toda a evidente consequência real, o que repugna à razão;
3) VIA PELA CONTINGÊNCIA - A contingência dos seres imperfeitos aponta para um fundamento necessário, pois os seres que estão em movimento não são por si , nem em si. Nem sempre foram e podem deixar de ser. Isto denota a sua dependência de outro ser, que na corrente de causalidade fundante exige um Ser Necessário, ou seja, que é e não pode deixar de ser, que sendo por si e em si, fundamente a existência de todos. Deus é o Único Necessário, cuja essência e existência se identificam.
4) VIA PELOS GRAUS DE PERFEIÇÃO - Nesta via , o filósofo acentua nas coisas graus de perfeição diversos na sua proporcionalidade que remetem a uma fonte máxima das perfeições. Aqui, também a proporcionalidade se relaciona com a contingência, pois os seres imperfeitos recebem as perfeições e as exercem, como qualidades dependentes e passageiras. A flor é bela, mas não é a beleza, nem a sua fonte. Se fosse se manteria sempre bela. Contudo, em pouco tempo, fenece. Deste modo, a saúde , a força, a vitalidade...apontam necessariamente para uma fonte, um ser que seja a fundamentação ontológica das perfeições e ,na sua plena posse estável , as distribua aos seres contingentes;
5) VIA PELA ORDEM E FINALIDADE - Dá continuidade à visão aristotélica sobre a Ordem no universo que supõe uma Mente Ordenadora ( Nous para os gregos) , expressão tomada pelo estagirita de Anaxágoras. Tomás de Aquino recoloca a noção de finalidade - Deus como causa final que atrai através da inteligência interna a cada existente que alcança uma realização ontológica, cumprindo ,assim, a orientação teleológica intrínseca à sua natureza. Ou seja, a inteligência que está no universo de forma ordenada e harmônica , em sua perfeição, aponta para a necessidade de uma Mente Ordenadora que é também sua causa final.
CONCLUSÃO:
A argumentação aristotélico-tomista tem um caráter permanente no sentido filsófico-metafísico, pois baseia-se em raciocínios e princípios fundamentais para se falar da existência de Deus como o princípio da não-contrradição ( uma coisa não pode ser e não ser ao mesmo tempo, sob o mesmo aspecto) e o da causalidade que são usados até pelos que os negam em suas teorias e sistemas de pensamento. Apoia-se este raciocínio, sem a interferência da fé ou de concepções religiosas, na orientação natural da razão humana, na ilogicidade e contradição de se negar o fundamento necessário, o que é negar a própria causalidade do efeito evidente, contingente e ontologicamente dependente. Baseia-se na sistêmica ordem e inteligência que está no universo , mas não é autoconsciente e nem mesmo no homem é totalmente autônoma, evocando uma Razão Ordenadora e uma finalidade na orientação intrínseca natural. Deus é o Princípio e o Fim de todo ser existente, a Mente, o sentido e a plenitude de toda a ordem inteligente do universo.
ARISTÓTELES, por força da razão, reconheceu a existência de Deus, tendo em vista o fato de haver finalidade (direcionalidade) e movimento (transformações) na natureza. Sobressaem assim, os seguintes aspectos teóricos sobre este tema em seus escritos:
1) A Existência de Deus - O argumento essencial recai sobre a prova metafísica. Todo ser em movimento tem uma causa que o move. E tudo o que move é movido por outro,pois em todos os entes finitos há sempre algo que lhes possibilita serem movidos (todos estes são mistos de potência e ato). Este movimento somente é possível através de uma atualização, isto é, a passagem da potência ao ato, realizada por um agente externo ao que é movido. Ora, na série de causas ( ou agentes que movem) não é possível ir ao infinito (princípio de regressão), pois ,então, seria impossível o movimento. Logo, deve existir necessariamente um primeiro agente (ou motor) que move toda a série de causas e não é movido por nenhum outro a não ser por si mesmo. Isto implica também que a Primeira Causa é Ato Puro , ou seja , não possui mistura de potência e ato, realizando em si todas as perfeições do ser;
2) A Natureza de Deus - Deus é ato puro(sem nenhuma potência, pois já é tudo que deve ser) ,motor imóvel, absolutamente simples ( não composto de partes), incorpóreo. O ato puro significa perfeição e a suma perfeição consiste em pensar-se a si próprio sem algo externo que lhe mova o pensamento. Deus é pensamento de pensamento, sumamente completo em si mesmo.
TOMÁS DE AQUINO, na Idade Média, no seculo XIII, retoma a filosofia aristotélica e a introduz no ocidente, adaptando-a à Teologia Cristã. Porém, traça uma teologia natural com base na própria razão filosófica, mostrando os passos racionais, conforme os princípios metafísicos, para a afirmação da existência de Deus. Há que se dizer, contudo , que a sua postura sobre o conhecimento é de frisar a via apofática (da negação) e analógica para se falar do Ser Divino. Primeiro negar do ser perfeito as qualidades limitadoras e as imperfeições. Sabe-se, assim, o que Ele não é. Ou a comparação através da proporção do ser que gera uma noção, uma razão de similaridade , a qual tem o seu grau infinito no ser absoluto. Os atributos divinos que tocam a essência do ser perfeito só podem ser alcançados racionalmente por estas duas vias de conhecimento.
Quanto à existência de Deus , o objeto desta reflexão, Tomás de Aquino, organiza cinco vias que, resgatando as bases da argumentação aristotélica, situam de forma mais sistemática a possibilidade do alcance da razão a esta realidade , como constatação necessária pelo princípio da causalidade:
1) VIA PELO MOVIMENTO - Recoloca o pensamento do motor imóvel necessário como causador de toda a sequência de movimentos, conforme as categorias aristotélicas de ato e potência;
2) VIA PELA EFICIÊNCIA - Aqui, apresenta Deus como causa primeira incausada que fundamenta toda a corrente de causas secundárias, na relação causa-efeito, no universo. Esta relação de efeito para causa não pode ser um processo "ad infinitum", pois seria negar toda a evidente consequência real, o que repugna à razão;
3) VIA PELA CONTINGÊNCIA - A contingência dos seres imperfeitos aponta para um fundamento necessário, pois os seres que estão em movimento não são por si , nem em si. Nem sempre foram e podem deixar de ser. Isto denota a sua dependência de outro ser, que na corrente de causalidade fundante exige um Ser Necessário, ou seja, que é e não pode deixar de ser, que sendo por si e em si, fundamente a existência de todos. Deus é o Único Necessário, cuja essência e existência se identificam.
4) VIA PELOS GRAUS DE PERFEIÇÃO - Nesta via , o filósofo acentua nas coisas graus de perfeição diversos na sua proporcionalidade que remetem a uma fonte máxima das perfeições. Aqui, também a proporcionalidade se relaciona com a contingência, pois os seres imperfeitos recebem as perfeições e as exercem, como qualidades dependentes e passageiras. A flor é bela, mas não é a beleza, nem a sua fonte. Se fosse se manteria sempre bela. Contudo, em pouco tempo, fenece. Deste modo, a saúde , a força, a vitalidade...apontam necessariamente para uma fonte, um ser que seja a fundamentação ontológica das perfeições e ,na sua plena posse estável , as distribua aos seres contingentes;
5) VIA PELA ORDEM E FINALIDADE - Dá continuidade à visão aristotélica sobre a Ordem no universo que supõe uma Mente Ordenadora ( Nous para os gregos) , expressão tomada pelo estagirita de Anaxágoras. Tomás de Aquino recoloca a noção de finalidade - Deus como causa final que atrai através da inteligência interna a cada existente que alcança uma realização ontológica, cumprindo ,assim, a orientação teleológica intrínseca à sua natureza. Ou seja, a inteligência que está no universo de forma ordenada e harmônica , em sua perfeição, aponta para a necessidade de uma Mente Ordenadora que é também sua causa final.
CONCLUSÃO:
A argumentação aristotélico-tomista tem um caráter permanente no sentido filsófico-metafísico, pois baseia-se em raciocínios e princípios fundamentais para se falar da existência de Deus como o princípio da não-contrradição ( uma coisa não pode ser e não ser ao mesmo tempo, sob o mesmo aspecto) e o da causalidade que são usados até pelos que os negam em suas teorias e sistemas de pensamento. Apoia-se este raciocínio, sem a interferência da fé ou de concepções religiosas, na orientação natural da razão humana, na ilogicidade e contradição de se negar o fundamento necessário, o que é negar a própria causalidade do efeito evidente, contingente e ontologicamente dependente. Baseia-se na sistêmica ordem e inteligência que está no universo , mas não é autoconsciente e nem mesmo no homem é totalmente autônoma, evocando uma Razão Ordenadora e uma finalidade na orientação intrínseca natural. Deus é o Princípio e o Fim de todo ser existente, a Mente, o sentido e a plenitude de toda a ordem inteligente do universo.
Luiz
Cláudio Azevedo de Mendonça
Luiz Cláudio Azevedo de Mendonça nasceu em São Gonçalo, RJ, em 13/04/1968. É
Padre, pároco da Paróquia de S.José do Ribeirão , em Bom Jardim - RJ.
Bacharel em Teologia pela Faculdade São Bento,no Rio de Janeiro - RJ,
com Licenciatura Plena em Filosofia, pela Faculdade Católica de Anápolis
- GO, onde também é Pós-Graduado em Docência do Ensino Superior.
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