Elas, as tecelãs


 Eu sou aquela mulher que fez a escalada da montanha da vida, removendo pedras e plantando flores (Cora Coralina)

Elas queriam muito, queriam demais: trabalhar apenas dez horas diárias, e não dezesseis; queriam um pouco mais de respeito no ambiente de trabalho e - imaginem! - receber o mesmo salário que os homens. Enfim, sendo apenas mulheres, estavam querendo ser gente. No dia 8 de março de 1857, em Nova York, reuniram-se para reivindicar tais absurdos. Tecelãs de vida, sonhavam-se mais do que tecedoras de linhas e panos.

Quando puseram fogo na fábrica onde as operárias se aglomeravam, matando cerca de 130 delas, os tolos de então julgaram ter calado de vez a voz feminina. Cantaram como sua uma vitória, que, a História mostraria, era apenas o começo das grandes vitórias das mulheres sobre o preconceito, a injustiça e o atraso.

Foi fácil? Claro que não! Se fosse fácil, Deus tinha entregue a tarefa aos homens. Somente em 8 de março de 1910, foi criado o Dia Internacional da Mulher, data que precisou esperar o ano de 1975 para ser oficializada pela ONU.
Mas elas estão aí, vitoriosas. Dirigem caminhão, prendem bandidos, governam países e, como sempre, desde sempre, ensinam aos filhos as branduras e as durezas da vida, transformam palácios e barracos em lares. Com elas, os homens vão aprendendo que suavidade e ternura são apenas formas mais bonitas de determinação e competência.

O mundo ficou melhor. Fica melhor a cada dia em que homens e mulheres caminham juntos – iguais e diferentes - na desafiadora caminhada humana em busca da felicidade.

E porque elas merecem muito mais do que essa minha modesta homenagem, acrescento, pelo Dia Internacional da Mulher, um poema de quem tanto as conhecia, admirava e exaltava: Vinícius de Moraes.

Soneto de Contrição

Eu te amo, Maria, eu te amo tanto
Que o meu peito me dói como em doença
E quanto mais me seja a dor intensa
Mais cresce na minha alma teu encanto.
Como a criança que vagueia o canto
Ante o mistério da amplidão suspensa
Meu coração é um vago de acalanto
Berçando versos de saudade imensa.
Não é maior o coração que a alma
Nem melhor a presença que a saudade
Só te amar é divino, e sentir calma…
E é uma calma tão feita de humildade
Que tão mais te soubesse pertencida
Menos seria eterno em tua vida.

Robério José Canto
 
Robério José Canto é licenciado em Letras, tendo se dedicado ao ensino de português e literatura em escolas da rede particular e pública, lecionando em Nova Friburgo, sua cidade natal, e no Rio de Janeiro. Há longos anos colabora com imprensa friburguense, abordando temas de literatura e cultura em geral. Mantém a coluna Escrevivendo, em A Voz da Serra, no qual semanalmente publica crônicas e contos, além de eventualmente colaborar com outras seções do jornal. Publicou os livros “Um lugar muito lá”, “Ventos nas casuarinas”, “Menina com flor”, “O infinitivo e outros males”, “Onde dormem as nuvens” e “Toda criança merece ter um bicho”. Dentre outras distinções, recebeu o título de Cidadão Pleno Destas Terras de D. João VI, conferido pela Cidade de Nova Friburgo e o GAMA - Grupo de Arte Movimento e Ação;  a Moção Especial de Louvor  “pela valorosa  obra em prol da cultura e da Educação”, concedida pela Câmara Municipal de Nova Friburgo, e o Troféu Pégaitaz Irenee René, como um dos “Melhores do ano de 2015”, por decisão do Conselho de Representantes de Eventos Culturais de Nova Friburgo, “Diploma de Mérito Cultural”, outorgado pela Academia Nacional de Letras e Artes – ANLA; agraciado com Menção Honrosa pela Academia Ferroviária de Letras, dentre as Personalidades de Destaque de 2015. O 3º. Concurso Literário da Câmara Municipal de Nova Friburgo conferiu aos vencedores o Troféu Robério Canto. É presidente da Academia Friburguense de Letras, ocupando a Cadeira no. 4, patronímica de Alphonsus de Guimarães.

Cadeira nº 04 - Patronímica: Alphonsus de Guimarães 
 
*Publicado originalmente em A Voz da Serra, em  02 de março de 2016.

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