O Patrono: Júlio Mário Salusse


Júlio Salusse é o patrono da Academia Friburguense de Letras, órgão literário brasileiro localizado em Nova Friburgo – RJ, fundado em 22 de junho de 1947. Os cisnes representam um dos símbolos da Academia, junto com o brasão que contém  o lema da instituição. O poeta também dá nome a uma escola da rede estadual de ensino em Nova Friburgo.

Júlio Salusse e Nilo Bruzzi, no dia 23 de dezembro de 1947, 38 dias antes do falecimento do poeta.

Histórico 

O poeta, nascido na Fazenda do Gonguy, no atual município de Bom Jardim, a 30 de março de 1872, recebeu o mesmo nome do pai, vitimado por uma epidemia de tifo, quando o filho tinha alguns anos de vida. A mãe, de nome Hortência, casou-se pouco tempo depois. O padrasto, movido por ciúme póstumo, na definição de Nilo Bruzzi em “Júlio Salusse, O Último Petrarca” – Editora Autora, 2.ª Edição, Rio de Janeiro, 1956 – não gostava do enteado. Entre o filho e o segundo marido, Hortência optou por este, entregando o menino, aos cinco anos, para a avó paterna.

O poeta de “Cisnes” era, pelo lado paterno, neto de uma das primeiras imigrantes suíças que colonizaram Nova Friburgo, Marianne Joset e de Guillaume Marius Salusse, oficial de Napoleão Bonaparte, que sobreviveu à Batalha Naval de Trafalgar, onde morreu o famoso almirante Nelson. Marianne, órfã durante a travessia do Atlântico, era sovina e autoritária ao extremo; Guillaume era um sonhador, embriagado com a gloriosa medalha de ouro que Napoleão, in extremis, mandara deixar de herança aos heróis de suas aventuras militares. Marianne era o terror de filhos e netos; Guillaume, a glória viva que podiam tocar. Dele, Júlio Salusse herdou o sonho de imortalidade e da avó, a riqueza material.

Escolaridade

Cursou o primário em escola pública de Nova Friburgo.

Aos 10 anos foi internado no Colégio Pedro II – Rio de Janeiro.

Aos 14 anos, passou a estudar com professores particulares.

Aos 15 anos, foi para São Paulo, para o curso anexo da Faculdade de Direito.

No ano de 1889, ingressou na Academia Paulista.

Proclamada a República, retornou ao Rio de Janeiro e, em 1896, se formou em direito pela Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais.

Principais obras do autor

Nevrose Azul   –   Poesia   –   Editora Gazeta de Notícias  (1894)

Sombras    –    Poesia   –   Edição d’A Lanterna   (1901)

A Negra e o Rei    –    Novela   (1927)

Fitas Coloridas    –    Poesia  (inédito)

Nota: Antônio Carlos Secchin, crítico literário, encontrou num sebo do Rio de Janeiro um volume manuscrito, reunindo os dois livros editados com poesias de Salusse. O mais interessante é que “Sombras” seguia a ordem da edição príncipe e, em “Nevrose Azul”, lá estava “Sonhando”, a continuidade do soneto “Cisnes”, de que falara Carlos Heitor Castello Branco em “Salusse, o Poeta dos Cisnes” (Editora Hucitec, São Paulo, 1979). Nesse manuscrito encontrava-se “Fitas Coloridas”, livro inédito, cuja autoria, pela análise de Secchin, pode-se atribuir a Salusse. Assim ele se expressa no segundo parágrafo da nota final em “Obra Poética de Julio Salusse – Anais da Biblioteca Nacional, vol. 113, 1993, Rio de Janeiro”: O manuscrito, infelizmente, não era autógrafo de Salusse, conforme pudemos verificar. Como, então, assegurar a fidedignidade dos textos? De que modo confrontar o caderno com um original que desapareceu sem vestígios? Nesse ponto, foi fundamental a reprodução, na biografia de Castelo Branco, do livro Sombras, de que existe um exemplar na Biblioteca Municipal de São Paulo.

Segundo cálculos de Antonio Carlos Secchin, Julio Salusse escreveu, em seus 75 anos de vida, 61 poemas, entre sonetos e quadras, e sua obra o alinha entre a dos epígonos do parnasianismo, guardando, porém, certas peculiaridades que ele aponta em sua crítica registrada nos Anais da Biblioteca Nacional. No seu entender (...) o manuscrito terá tido o mérito de abrigar para a posteridade o livro inédito do cantor dos cisnes, obra que, conforme registramos, se constitui no ponto mais alto de sua produção.

Um único poema, um soneto, fez Julio Salusse alcançar a glória. Publicado pela 1ª vez em O ÁLBUM – ANO I – nº 20 – Maio 1893, revista dirigida por Artur Azevedo.

“A inspiração é a embriaguez dos deuses e neste dia eu estava inspirado por eles”. (Salusse, respondendo a Carlos Heitor Castelo Branco, um de seus biógrafos, que lhe perguntara como havia escrito o poema Cisnes).

“CISNES”. Este lindo soneto foi publicado em cerca de trinta países e tornou Julio Salusse o poeta mais declamado no final do século XIX e início do século XX:

A vida, manso lago azul algumas
Vezes, algumas vezes mar fremente, 
Tem sido para nós constantemente
Um lago azul, sem ondas, sem espumas!

Sobre ele, quando, desfazendo as brumas
Matinais, rompe um sol vermelho e quente,
Nós dois vagamos indolentemente,
Como dois cisnes de alvacentas plumas!

Um dia um cisne morrerá, por certo,
Quando chegar esse momento incerto,
No lago, onde talvez a água se tisne,

Que o cisne vivo cheio de saudade,
Nunca mais cante, nem sozinho nade,
Nem nade nunca ao lado de outro cisne...

Popularidade de “Cisnes”

Os poucos biógrafos do poeta, no geral, dizem que ele era ressentido com a popularidade que adquirira com o seu  soneto famoso. Agripino Grieco, em suas “Memórias”, como transcreve Carlos Heitor Castelo Branco, escreveu o seguinte:

“Salusse indignava-se quando insistiam em falar-lhe no soneto “Cisnes”, preferia “Uma Coruja” que compusera depois e de que mais ninguém gostava. Doente de cisma, frequentava muito as farmácias. Em suma: escreveu centenas de linhas rimadas e ficou sendo como Anvers, o autor de quatorze versos apenas” .
Carlos Heitor Castelo Branco escreve o contrário:

(...). “Jamais Salusse, como propalam, renunciou a “Cisnes”. Ao contrário, tinha orgulho de seu trabalho; o que não gostava era de ser chamado de poeta de um só soneto, ele que tantos sonetos escreveu, tantos belos e perfeitos, dentro do rigorismo da escola parnasiana”. (...)

Referências

Projeto Passo Fundo
Academia Friburguense de Letras

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